Desmatamento para além do meio ambiente
Apesar do desmatamento ocorrer em vários lugares e ter inúmeras consequências, este texto foca somente no desmatamento sofrido pela Floresta Amazônica e suas consequências econômicas. A maior floresta tropical do mundo tem sofrido desde 1970 fortes intervenções humanas, entre elas o desmatamento que tem como sua principal causa a agropecuária.
Se você mora no Sudeste, certamente se lembra da crise hídrica de uns anos atrás por conta dos baixos níveis de água dos reservatórios que abastecem as cidades. Naquela época, por conta de uma zona de alta pressão, a umidade proveniente da Amazônia foi impedida de chegar aos reservatórios, causando todo o transtorno de abastecimento. Antes de entrar nas consequências imediatas dessa falta de água é importante entender o porquê da umidade da floresta ser tão importante. As árvores funcionam como uma bomba d’água em sua transpiração. Para se ter uma breve noção, segundo o INPA, uma árvore de 10 metros libera para a atmosfera cerca de 300 litros de água por dia. Já a transpiração da Amazônia, devido a certos relevos e correntes de ar, é a responsável por trazer a chuva para as regiões centro-oeste, sul e sudeste do Brasil.
Agora, vamos para as consequências. Você se lembra qual foi o principal impacto sentido primeiramente? O aumento da tarifa de energia elétrica. Imagine isso como uma constante. São as árvores da Amazônia que liberam a umidade e, por lógica, se houver diminuição da quantidade de árvores, diminui também a quantidade de umidade, ou seja, ocorrem menos chuvas. Para resolver esse problema, teria que se pensar em alternativas para conseguir acesso a água, como obras de desvio de curso de rios ou bombeamentos. Essas medidas com certeza viriam acompanhadas de um gasto público e, consequentemente, de um aumento de impostos, além da tarifa de energia que ficaria ainda mais cara e uma possível necessidade de comercialização em massa de água para consumo.
A Floresta Amazônica, além de ser de extrema importância para a vida em território brasileiro, é também importante de igual forma para uma regulação climática mundial. Assim, muitos países se empenham cada vez mais em tentar preservá-la, porém o Brasil tem seguido contra esse movimento. Para se ter uma ideia, em relação ao período de janeiro a abril de 2019, o desmatamento esse ano, nesse mesmo período, teve um aumento de 113% e a tendência é que esses números só aumentem devido aos afrouxamentos de regras de controle ambiental e diminuição de fiscalização.
Uma grande preocupação são as consequências que esse descaso pode trazer frente ao mercado, consequências essas que já podem ser vistas. No dia 23 de junho, 30 representantes de instituições financeiras enviaram às embaixadas brasileiras cartas exigindo reuniões com diplomatas para fazer com que o atual governo tome atitudes para frear o desmatamento. Dentro desse grupo, cinco empresas que investem cerca de 5 bilhões de dólares no país ameaçaram, caso o desmatamento em massa não acabe, retirar o investimento.
Além dessa recente ameaça, há também a rejeição da Holanda do acordo entre o Mercosul e a União Européia, que está em discussão desde 1999. O principal motivo que levou a esta rejeição foi o desmatamento, que sabemos ser causado principalmente pela agropecuária, já que o acordo era baseado na agricultura e seu fechamento poderia levar a um aumento dos níveis de desmatamento. Segundo Albertoni e Bartesaghi, da revista Exame, o Mercosul teria como benefícios novos níveis de competitividade e captação de investimentos, tornando-o um mercado mais atraente. Ainda não se sabe ao certo que fim este acordo irá tomar, mas esse é mais um provável impacto econômico negativo que poderia ter sido evitado com a conservação da floresta.
Tendo em vista estes e outros fatos e acontecimentos, conseguimos entender que, além de um problema ambiental, o desmatamento é um problema socioeconômico, e por isso ele não deveria ser uma preocupação somente dos ambientalistas. É uma situação que traz diversas perdas para vários setores da sociedade e, por assim ser, toda a população deveria se empenhar e se comprometer com a causa.
Nicolle Motta
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária pela UERJ.