Envenenando o planeta
Com a Revolução Verde entre 1960-1970, a forma de produzir alimentos foi alterada e desenvolveu-se cada vez mais até os dias de hoje. Uma dessas mudanças foi a utilização de agrotóxicos em grande escala, o que gerou muitos benefícios para a agricultura, auxiliando no combate às pragas, aumentando a produção e utilizando solos que antes não eram viáveis. Porém, pouco se é dito sobre os malefícios desses produtos e a poluição que causam.
Vamos observar de forma resumida como ocorre a cadeia de bioacumulação do agrotóxico. Primeiro ele é usado nas plantações, é absorvido pelos vegetais e também pelo solo. Este, com o tempo se torna infértil devido sua grande capacidade em reter boa quantidade desses produtos, contaminando os lençóis freáticos. Ao dispersar esse agrotóxico nas plantas, parte dele também fica em suspensão no ar, o que afeta animais aéreos e trabalhadores. Quando chove, tais produtos são carregados com a água, através do escoamento superficial que desaguam em rios e lagos, poluindo assim o corpo d’água, podendo causar morte de espécies de plantas aquáticas e animais. Assim, ocorre o fenômeno de bioacumulação, pois quando rios e lagos são poluídos, afetam a biodiversidade local e por consequência o homem que consome o peixe contaminado, por exemplo, já que tais pesticidas ficam armazenados no tecido adiposo de muitos animais.
Além disso, fertilizantes, pesticidas e herbicidas são despejados pela agricultura, sendo em sua maioria poluentes orgânicos não biodegradáveis, ou seja, que não se dispersam em ambientes aquáticos. Quando esses compostos orgânicos chegam a água, ocorre o processo de eutrofização, gerando o aumento de nutrientes (como o fósforo e nitrogênio), tendo como consequência a proliferação de microrganismos decompositores, como algas, cianobactérias e bactérias aeróbias. Estas consomem o oxigênio da água e formam uma camada na superfície, impedindo que a luz solar penetre, afetando o processo de fotossíntese, que por sua vez leva à morte de plantas e animais aquáticos.
Segundo o IBGE, a poluição por agrotóxicos só fica atrás da poluição por esgotos. O Ministério da Agricultura liberou cerca de 51 novos agrotóxicos em 2020, tornando o Brasil o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, mesmo não sendo o maior produtor de alimentos. O uso desses novos pesticidas contendo produtos que foram banidos em alguns países, por serem nocivos à saúde, é um grande risco para a biodiversidade do país. Ao contaminar água, solo e ar, desencadeiam uma série de consequências para a saúde humana e animal, como intoxicações que geram lesões nos rins, cânceres, problemas no pulmão e no sistema nervoso, redução da fecundidade, convulsões e envenenamento. Além disso, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), cerca de 99% dos venenos aplicados nas plantações não atingem a praga alvo. Podemos concluir que grande parte desses produtos vão parar em rios, solo e ar.
Mas então, devemos parar de usar agrotóxicos? Qual a forma certa de utilizar esses produtos? A resposta mais simples que podemos chegar é que devemos buscar alternativas, diminuir o uso desses produtos, escolher e fazer uso apenas dos que atingem a praga alvo. Mesmo sendo uma tarefa difícil, não é algo impossível. No Brasil ainda se faz o uso de agrotóxicos que foram proibidos em 1985 na União Européia, Estados Unidos e Canadá por serem muito tóxicos; tais países limitam o uso dos produtos mais tóxicos e construíram uma fiscalização rigorosa. Por exemplo, na União Européia é proibido o uso de avião para dispersar o produto nas plantações, já no Brasil aplica-se dezenas de produtos nocivos utilizando o avião perto de casas, nascentes de rios e córregos. Segundo o pesquisador Wanderley Pignati, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, a poluição por agrotóxicos no Brasil é algo intencional: “Existe a intenção de poluir para atingir o alvo dele – no caso, os insetos, as pragas. Ele aceita conscientemente essa consequência”.
De acordo com a OMS, Organização Mundial de Saúde, as intoxicações por agrotóxicos já atingiram o número de 3 milhões por ano. Sendo assim, é necessário a proibição dos produtos mais nocivos, assim como uma fiscalização rigorosa e a punição pelo crime, que deve ser considerado doloso, quando feito intencionalmente.
Eyshila Tomaz Soares
Bibliografia:
https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/poluicao-por-agrotoxicos-consequencias-invisiveis-para-agua-solo-e-a
https://www.ecodebate.com.br/2012/08/24/agrotoxicos-e-a-poluicao-das-aguas/ https://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/entenda-brasil-maior-consumidor-agrotoxicos-mundo